SUSANNE JANSSEN NO BARREIRO
Até ao dia 29 deste mês pode ver-se a exposição 'Terra do Nunca', de Susanne Janssen, no Auditório Augusto Cabrita, no Barreiro (organização da Ilustrarte e da Câmara Municipal do BArreiro). O Beco passou por lá, bem acompanhado pelo Bicho dos Livros, e recomenda a visita.
Susanne Janssen recorre a diversas técnicas de expressão gráfica e plástica para compor os seus trabalhos e essa diversidade é uma das características que sobressai quando se olha para as ilustrações da autora. Óleos, colagem, linogravura, por vezes em simultâneo, contribuem para definir o 'traço' da Janssen. Mas vamos aos diferentes núcleos da exposição.
Os trabalhos de ilustração de O Capuchinho Vermelho (Le petit chaperon rouge, Éditions du Seuil, 2002) abrem a mostra. Os rostos das personagens do conhecido conto surgem ocupando o primeiro plano das ilustrações, com caras enormes e corpos que parecem não caber nos espaços onde se movem. E essa é uma visão comum a outros trabalhos da autora expostos no Barreiro: o contraste entre perspectivas realça as expressões e os movimentos das personagens, como se estas pertencessem a uma dimensão diferente daquela que rege os 'cenários' onde se movem (e onde podem habitar outras personagens, também elas em destaque noutros momentos e noutras ilustrações).
Para além das ilustrações originais que serviram para a impressão do livro, este núcleo apresenta ainda vários esboços e estudos que conduziram às ilustrações, o que permite acompanhar, de algum modo, o trabalho criativo da autora e os passos seguidos ou abandonados na definição de cada imagem.
Seguem-se as ilustrações de Peter Pan (Être Éditions, 2005), linogravuras sobre as quais a autora intervém com tinta preta e com colagens, complementando a impressão de um modo tal que cada obra parece ser o resultado de uma mesma e única técnica. Para além das linogravuras, há também ilustrações a óleo com colagens. A técnica de recorte de pedaços do corpo das figuras presentes (sejam elas personagens, objectos ou elementos do 'cenário'), posteriormente colados novamente na composição, cria uma sensação de três dimensões que confere às imagens uma profundidade pouco vulgar.
Em Madame Butterflys Klavierstunde (La Leçon de Piano de Madame Butterfly, Milan, 2000), a autora ilustra o seu próprio texto e a exploração das deformações da noção de perspectiva volta a ser um traço visível, embora de modo diferente daquilo que pudemos ver em Le petit chaperon rouge. Aqui, os corpos das personagens surgem em posições no limite do verosímil e partilham o cenário com objectos e definições de espaços diferenciados num mesmo momento.
Un Soir Prés d'un Grand Lac Tranquille (La Joie de Lire, 2004), com texto de Jutta Richter, é o outro livro cujas ilustrações estão presentes nesta exposição. O contraste entre perspectivas e proporções volta a ser dominante, agora com algumas personagens a ocuparem quase todo o espaço das composições em primeiros planos gigantescos. Só que essas personagens vão mudando em função da narrativa e da sua relação com o mundo onírico (a história de Jutta Richter fala de um menino e de um adulto que têm, cada um no seu espaço, medo da noite e das sobras que a habitarão) e o grande plano tanto pode ser ocupado pelo rosto adormecido do menino como por aves desmesuradamente grandes que o guiam pelo escuro das horas nocturnas.
A acompanhar a exposição, foi editado um catálogo (o nº3 da colecção a arte na página, que já editou os catálogos das exposições de Cristina Valadas e de Bernard Jeunet que passaram recentemente pelo Barreiro), com coordenação de Ju Godinho e Eduardo Filipe, que inclui uma entrevista com a autora e várias reproduções das ilustrações expostas. O livro é uma boa forma de aproximação à obra de Susanne Janssen e é, além do mais, um belo objecto editorial...
A exposição de Susanne Janssen pode ser vista até ao dia 29 de Outubro no Auditório Municipal Augusto Cabrita (Barreiro), de 3ª a Domingo, entre as 17 e as 22 horas.
17.10.06
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