28.12.08

O BALANÇO

Este era o texto que devia ter aparecido ontem, no Actual, mas que acabou por ficar de fora à conta de uma confusão técnico-editorial. Deixo-o aqui, para quem quiser ler o balanço que faço do ano editorial no que à banda desenhada e à ilustração, por um lado, e aos livros ditos infantis, por outro, diz respeito. Ficam também as minhas escolhas para os 'dez do ano'.

Num ano em que a edição de banda desenhada acentuou a sua decadência no plano comercial, os objectos mais memoráveis chegaram do círculo dito ‘independente’ e de editoras não especializadas. Associando as exposições colectivas às edições, projectos como a Imprensa Canalha, A Mula, Opuntia Books ou Chili Com Carne asseguraram a edição de autores portugueses e estrangeiros cujo trabalho, escapando aos interesses comerciais, tem reflectido sobre a linguagem da banda desenhada e produzido obras relevantes na discussão sobre as fronteiras bd/ilustração e o melhor modo de as cruzar sem muito apego à rigidez das definições. E o facto de editoras como a Tinta da China ou a Campo das Letras terem iniciado a publicação de banda desenhada faz-nos acreditar que talvez o futuro da arte em termos editoriais passe mais por chancelas que nada devem à visão reduzida (dos ‘quadradinhos’, da bonecada, etc) que tem definido o mercado português.

No capítulo dos livros ditos infantis, os bons augúrios mantiveram-se. Pouca gente ainda acredita que basta uma história com diminutivos e meia dúzia de bonecos para termos um livro e esses poucos não tardarão a perceber o logro.

Dez Livros:

VVAA, Cabeça de Ferro, Imprensa Canalha
André Lemos, Embroidered Muscles, Opuntia Books
Max Tilmann, Já Não Há Maças no Paraíso, Mmmnnnrrrg
Girogio Fratini, As Paredes Têm Ouvidos/ Sonno Elefante, Campo das Letras
Brian K. Vaughan, Niko Henrichon, Fábula de Bagdad, BD Mania
José Carlos Fernandes e Luís Henriques, A Metrópole Feérica, Tinta da China
Peter Newell, O Livro Inclinado, Orfeu Negro
Pablo Albo e Géraldine Alibeu, Um Gato na Árvore, OQO
Davide Cali e Serge Bloch, Eu Espero, Bruaá
Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho, O Mundo Num Segundo, Planeta Tangerina

24.12.08

O INEVITÁVEL NATAL

Paramos por uns dias, claro. Para os leitores que comemoram o Natal, os nossos votos de boas festas. Para os outros, aguentem que são só dois dias...

23.12.08

VISITA DO DIA





O site da ilustradora Jen Corace.
RECORTES



Rita Taborda Duarte e Luís Henriques
O Tempo Canário e o Mário ao Contrário
Editorial Caminho

A frase é de C.S.Lewis: “Inclino-me para a regra segundo a qual uma história para crianças que apenas agrade a crianças é uma má história para crianças.”

Ouvido o mestre, confirma-se o princípio; o epíteto de literatura infantil terá o seu cabimento no âmbito do mercado e da edição, mas aqui estamos perante um livro de enorme qualidade formal, narrativa e plástica, cujo conteúdo prescinde de categorias editoriais. O Tempo Canário e o Mário ao Contrário revela, na sua construção, o labor de pensar e fazer pensar sobre o tempo e a sua inexorável passagem num equilíbrio perfeito entre a fuga de simplificações (que contamina muitos livros ditos ‘infantis’) e uma narrativa que consegue abordar temas como o crescimento, a sucessão de gerações e a morte sem nunca se afastar da construção literária e sem qualquer cedência ao didactismo.

Vários passos para lá da simples mediação do texto, que ainda persiste em colar-se aos livros ilustrados editorialmente pensados para os leitores mais novos, as ilustrações de Luís Henriques conjugam-se com a escrita de Rita Taborda Duarte estabelecendo uma relação de complementaridade, diálogo íntimo que vai tecendo sentidos mútuos a partir dos elementos verbais e pictóricos. O traço fluído e sinuoso de Henriques, com uma utilização eficaz das sombras na definição de espaços e volumetrias, convoca momentos do texto de um modo que transcende a representação ou o esclarecimento, incorporando-se na narrativa como elemento intrínseco e de pleno direito. E o texto, onde a riqueza vocabular e os jogos de linguagem marcam presença, usa com inteligência a indagação sobre a semântica e o léxico para procurar conclusões seguras sobre a imparável sucessão dos dias, como acontece no ‘Dicioneiro’, o dicionário verdadeiro que antecede a história do Tempo Canário, aprisionado pela teimosia de Mário. O resultado é uma reflexão sobre o tempo a partir de metáforas e alegorias que ora lhe relativizam a inevitabilidade do curso, ora lhe acrescentam leituras onde a alegria de andar por cá se sobrepõe aos cabelos brancos, à coluna encurvada e às dores articulatórias que hão-de chegar. Uma espécie de “Always Look at the Bright Side of Life”, com Monty Python e tudo.

Sara Figueiredo Costa
(Versão 'integral' do texto publicado no suplemento Actual do jornal Expresso, 13 Dez. 2008)

18.12.08

FEIRA LAICA



12ª Feira Laica integrada no evento FURACÃO MITRA

20 de Dezembro > 15h às 23h

EDIÇÃO INDEPENDENTE, QUERMESSE DE OBJECTOS IMPROVÁVEIS, LIVROS, DISCOS E FILMES EM SEGUNDA MÃO, SERIGRAFIA, ILUSTRAÇÃO, DESENHO E MEMORABILIA

Novidades Editoriais:
Blues Control de Pedro Lourenço (Imprensa Canalha) /Cartaz da colecção Checkpoint de Mike Diana (Mike Goes West) /Desenho de Luís Henriques em serigrafia (Mike Goes West)/Embroidered Muscles de André Lemos Opuntia Books) O Hábito Faz o Monstro #13 de Lucas Almeida/Colecção de Postais, vários autores (Os Gajos da Mula)/ puta prateada, de Jucifer, col. Comércio Tradicional (Mike Goes West)

Editores presentes:
Averno, fanzine Alçapão - fanzine de arquitectura dura, Associação Chili Com Carne, jornal Coice de Mula, discos F.Leote, FlorCaveira, GAIA - Centro de Convergência, fanzine O Hábito Faz o Monstro, Hülülülü, Imprensa Canalha, Mike Goes West, MMMNNNRRRG (com o autor norte-americano Mike Diana), Opuntia Books, Os Gajos da Mula, [R]eject'zine, Serrote (com a autora Maria João Worm), Thisco e Via Óptima.

16.12.08

15.12.08

THE COMICS JOURNAL

Ainda estou a ler a longa entrevista com Gene Deitch e a sua descendência, Kim, Simon e Seth Deitch, e já o número de Dezembro do The Comics Journal chega às livrarias. No passado, isso seria motivo para uns segundos de lamento, mas desde que a Bedeteca recebe a revista com pontualidade e a disponibiliza para requisição, a história é outra. Não sei se já o disse, mas o cartão das BLX é o melhor amigo do leitor lisboeta.

RETOMAR O RITMO

Trabalho acumulado, o inevitável mês de Dezembro, os livros a precisarem de mais estantes e o espaço a não saber como recebê-las... Vou poupar-me ao rol das lamentações e tentar retomar o ritmo. E começo por relembrar que está a decorrer o Furacão Mitra, no espaço Interpress (Rua Luz Soriano, 67, Lisboa) e que até ao dia 20 podem ver-se exposições individuais de Mike Diana, Fábio Zimbres, Filipe Abranches, uma exposição da dupla Carlos Sousa & Nuno Pinheiro e uma colectiva que partilha o nome do evento.

9.12.08

VISITA DO DIA





O blog de ilustrações de Lula Palomanes.

7.12.08

WORKSHOP DE ILUSTRAÇÃO DE LIVROS INFANTIS



As entrevistas de selecção serão realizados no dia 19 de Dezembro e o workshop tem lugar de dia 22 de Dezembro a 27 de Dezembro de 2008, todos os dias excepto 25 de Dezembro e perfazendo um total de 35 horas de formação.
Para se inscreverem os candidatos deverão enviar a ficha de pré-inscrição para o e-mail do CIEAM (cieam@fba.ul.pt). O programa do workshop está disponível para consulta, em anexo junto com a ficha de inscrição.

2.12.08

FURACÃO MITRA

De 10 a 20 de Dezembro, no espaço da Interpress (Rua Luz Soriano, 67, no Bairro Alto), o Furacão Mitra assola a cidade. Programação completa aqui.



Ao décimo dia do mês, a obra ficou concluída. Os sacerdotes do templo exultavam e as mulheres piedosas acarinhavam a cabeça dos filhos que mais tarde seriam imolados em honra do tabernáculo, pois o grande globo de ouro estava finalmente terminado. O orbe, de dimensões ciclópicas, como um grande olho que, do cimo da colina, contempla majestosamente os mortais, trará a paz de espírito e o deleite aos olhos dos habitantes da cidadela. Para além do mais, atrairá a presença dos deuses da riqueza, com os seus hálitos benfazejos. Decidiu-se o dia da inauguração, aberta ao povo simples, que nesse dia gozaria da pompa e circunstância dos grandes eventos patrícios.
Mas no dia escolhido, à hora marcada, deu-se o assombroso insólito. Uma horda de indigentes andrajosos, de odor nojento, estropiados da vida e deserdados do consumo, invadiu o adro do grande globo e espojou-se nas suas mediações com a naturalidade do proprietário que retorna à vivenda após as férias. Para horror dos notáveis, os piolhosos envolveram-se então numa série de cerimónias que incluíam cânticos grotescos e danças que nada mais eram do que espasmos grotescos, enquanto acariciavam a superfície dourada da esfera. As gentes educadas da urbe logo ali desfaleceram perante tamanha ignomínia e horror. Pouco depois um grande furacão veio anunciar o fim do mundo. Em trapos.


Ilustração de Filipe Abranches
Texto de José Feitor
DAVID RUBÍN: NOVO LIVRO A CAMINHO

No blog de David Rubín, podem ver-se alguns 'avanços' do seu novo trabalho, Cuaderno de Tormentas, quase a chegar às livrarias.