7.6.04

QUADRADO 6



Numa das actividades do último fim de semana da Feira do Livro de Lisboa, decorreu o lançamento do número 6 da revista Quadrado, editada pela Bedeteca de Lisboa (para além do lançamento último número do Satélite Internacional, que ainda não vi, e da apresentação de Sobre BD, de David Soares, de que falarei em breve).
A revista abre com uma entrevista a Joe Sacco, autor de Palestina, recentemente editado entre nós, onde o humor e a diversidade de interesses e curiosidades são a nota dominante. Sacco fala do processo de realização de Palestina, desde as visitas aos campos de refugiados até à arte final, já na solidão do seu estúdio. Fala também de jornalismo, dos diferentes modos e posturas quando se trata de mostrar uma realidade distante e pouco agradável, de música e de outros projectos.
Segue-se uma série de textos, entre pequenas recensões, um balanço do ano editorial de 2003, uma resenha sobre antologias e uma apresentação da cena bedéfila da Finlândia, país que marca presença neste número 6.
Na segunda parte, já fora dos textos e da crítica, publicam-se dezoito bd?s de autores tão diversos como Filipe Abranches, Anke Feutchtenberger ou Markus Huber. Destaque para a bd de José Manuel Saraiva, ?Fátima Perdeu o Rosto?, cuja narrativa se caracteriza por uma linguagem poética onde os sentidos se multiplicam e que se constrói na perfeita simbiose entre a imagem e o escasso texto.
Mas o mais interessante desta Quadrado é o facto de se começar a perceber de um modo muito claro que as actividades da Bedeteca começam a saltar fronteiras de um modo já visível ao público em geral, revelando-se aqui os frutos de um trabalho como o Salão Lisboa, onde a presença de autores estrangeiros permite um intercâmbio que só pode trazer benefícios. A título de exemplo, veja-se o volume colectivo Nós Somos os Mouros, editado pela Assírio e Alvim na sequência do último Salão Lisboa, ou a popularidade que uma autora como Anke Feutchtenberger alcançou por aqui nos últimos tempos. Conhecendo muito pouco do que se faz na Finlândia em termos de bd, devo dizer que este número da Quadrado abre as portas para contrariar esse desconhecimento ao mesmo tempo que me leva a crer que a ?internacionalização? do trabalho que a Bedeteca tem desenvolvido terá muito a ver com o crescimento da bd em Portugal e com a divulgação de autores e estilos que, de outro modo, nos passariam muito ao lado, confinando-nos ao já se há muito conhecido, por bom que seja. Tudo bons motivos para comprar a Quadrado, algures numa livraria ou no quiosque da Feira do Livro até ao dia 10 de Junho.
Falta dizer que a capa e a contracapa, bem como os respectivos versos, têm a assinatura de André Ruivo e fazem deste o número mais atraente de todas as Quadrados, isto para quem se guia por capas...

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