OLIVIER BRAMANTI NOS SALDOS DA FNAC
Deve ser do meu mau feitio, mas não percebo porque é que a Fnac insiste na utilização de uns autocolantes pegajosos com o preço de saldo. Já me faz confusão que os preços em geral sejam indicados com um autocolante na contracapa… Não sei explicar, mas a ideia de ter autocolantes colados em livros perturba-me! Mas a verdade é que esse autocolante habitual sai sem dificuldade e não deixa resíduos. Já o dos saldos… Enfim, lá fui espreitar a molhada dos livros e trouxe uma bd de Olivier Bramanti, Le Chemin des Merles, que já andava a namorar há uns meses largos, mas cujo preço original não era dos mais simpáticos.
Le Chemin des Merles é o segundo álbum de Bramanti, depois de Le Pont de l’Ange. Desta vez, a história remonta à batalha entre os exércitos balcânico e otomano, em 1389, que termina com a derrota do príncipe Lázaro e com a vitória dos otomanos. Le Chemin des Merles vive da memória do príncipe derrotado, das imagens que antecederam a sua morte e do modo doloroso como Bramanti encena o futuro de qualquer mártir ou herói. Ao longo das pranchas cujo traço nos deixa suspensos de tão pouco usual, quase transformando as vinhetas em velhas sépias perdidas entre o pó do tempo, Olivier Bramanti apresenta a história do príncipe e as suas memórias, mas apresenta também as questões que se colocam face a qualquer guerra e aos seus supostos benefícios. Le Chemin des Merles é um livro belíssimo no que à narrativa e à vertente gráfica diz respeito, mas é acima de tudo um livro de reflexão que nos conduz sem hesitar para os problemas sociais e políticos da antiga Jugoslávia, deixando no ar uma amargura inevitável quando pensamos no que se destruiu, nos espaços de comunicações múltiplas que se cortaram, na esperança que morreu um bocadinho em cada um de nós.
Aqui podem ler uma entrevista com o autor.
10.2.04
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