2.11.03

E CHEGOU AO FIM… PARA O ANO LÁ ESTAREMOS OUTRA VEZ
No último dia do FIBDA houve tempo para rever exposições, participar no debate com Michel Plessix, passar pelos autógrafos e dar uma última vista de olhos às novidades editoriais. Mas vamos por partes.

No segundo andar da Escola Intercultural, a exposição dedicada ao tema deste ano (‘A Mulher na BD’) ocupava algumas salas que valeu a pena voltar a visitar. Dividida em vários núcleos, a exposição permitiu, acima de tudo, um olhar sobre a presença da Mulher na bd ao longo da história (as pranchas dos anos 30 fascinaram!). Destaque para os trabalhos de autores como Miguelanxo Prado (uma das ausências do Festival), Hugo Pratt, Cosey e Crumb, ou as figuras femininas erotizadas por Manara (a outra ausência notada), Guido Crepax e Alex Varenne, que assumiram o papel de representar a visão masculina, acabando por resultar em várias visões, porque a genialidade de todos estes autores é suficientemente marcada para não podermos falar de uma só visão, uniforme.



Destaque ainda maior para a sala onde se juntaram mais de duas dezenas de autoras de bd, de Jill Thompson a Roberta Gregory, passando por Melinda Gebbie, Kate Charlesworth, Alice Geirinhas, Lynn Johnson, Magda Seron, Marina Palácio, Chantal Montelier, Camille Garcia ou Isabel Lobinho, apenas para referir algumas. Nesta sala pudemos voltar a ver pranchas de obras já lidas, mas também ficámos a conhecer alguns trabalhos inéditos e outros que nunca tivemos oportunidade de ler.


Roberta Gregory


Vera Tavares


Melinda Gebbie


Magda Seron

Entre uma exposição e um debate, a pausa para o café levou-nos a encontrar o Luís Graça, do muito recomendável Central Comics, que nos anunciou novos textos do seu ‘diário’ do FIBDA. Não sei se já estão on-line, mas espreitem aqui para descobrir.

O debate com Michel Plessix deu-nos a conhecer um autor profundamente envolvido com as personagens que (re)criou e capaz de fazer do pormenor uma espécie de filosofia estética. Plessix contou como foi a sua descoberta de O Vento nos Salgueiros, romance de Kenneth Grahame, e como surgiu a vontade de colocar no papel a sua própria visão das personagens. Daí a convencer o editor, ansioso por novas propostas na área da bd infantil (que não estava a ter o mesmo desenvolvimento que a restante no panorama da bd franco-belga), foi um passo curto e muito certeiro.
O autor bretão falou ainda do fascínio que tem pela diversidade e pelos pormenores (facto bem visível no seu trabalho gráfico), do seu método de trabalho, que implica o recurso a fotocópias do que desenhou (e para os puristas, Plessix deixou uma frase certeira: “Na bd, o que interessa é o resultado final. É essa a grande diferença em relação à pintura e por isso os originais não são para ser vistos.”) e da influência do cinema na sua concepção de planos. Para o futuro, planeia outros projectos envolvendo as personagens de “O Vento nos Salgueiros”…



No capítulo dos autógrafos, reinou a animação habitual. Aqui no Beco conseguimos a paciência necessária para esperar por um desenho de Michel Plessix. E valeu a pena, claro. Mas o tempo não deu para mais e os livros que queríamos ver “personalizados” já o tinham sido nos outros dias, por isso escapámos depressa do simpático caos (mas caos, ainda assim) da sala de autógrafos e aproveitámos para fazer uma última ronda pelos stands das editoras. Na Polvo, a novidade do dia era a versão portuguesa de A las mujeres no les gusta follar (não me lembro se o título português é tão explícito, ou se tem estrelinhas no lugar do verbo-tabu, mas o livro é recomendável de qualquer forma.), de Alvaréz Rabo (assinou-nos livros ontem e podemos garantir que a ousadia do seu trabalho é directamente proporcional à simpatia e à disponibilidade para conversar). Nos outros stands não vimos novidades em relação aos últimos dias e, com o stand da Devir mais sossegado do que o habitual, acabámos por dedicar alguns minutos a ler algumas histórias do terceiro volume de A Pior Banda do Mundo: As Ruínas de Babel, de José Carlos Fernandes. Valeu a pena, claro.
Nos próximos dias, e agora que o FIBDA acabou, dedicaremos bastante espaço a comentar alguns dos livros recentemente lançados. E sobre o balanço do último dia, ficamos por aqui. Para o ano há mais!

Sem comentários: