28.5.08

BLOCO DE NOTAS: O Mundo Num Segundo


O Mundo Num Segundo
Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho
Planeta Tangerina

Já vamos sabendo que os livros ditos infantis podem ter tanto para oferecer como os outros. E já vamos sabendo, igualmente, que quebrar fronteiras (infantil, adulto, ilustração, banda desenhada, exercício gráfico, texto em prosa, reportagem, etc, etc...) pode ter resultados mais enriquecedores para a leitura do que a eternização de barreiras expressivas e de recepção que não nos permitem olhar para os livros e ver/ler o que lá está, sem ‘a prioris’. Os livros da Planeta Tangerina têm contribuído de modo decisivo para essa consciência, para além de oferecerem ao leitor resultados sempre pensados globalmente, desde a criação do conteúdo até à forma em que ele se apresenta. Com O Mundo Num Segundo, de Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho, tudo isso se confirma e, mais ainda, tudo isso se sublima. Exagero? Não quando olhamos para as páginas do livro e percebemos a qualidade das ilustrações, o potencial de leituras da narrativa (texto e imagem, entenda-se), a possibilidade de outras descobertas, outras leituras e outros modos de ver que se oferecem ao leitor, independentemente da idade.
Aqui se define um percurso por diferentes partes do mundo, com os fusos horários por referência (apresentada nas guardas finais, sob a forma de um planisfério) e uma amostra da imensidão de acontecimentos que fazem da vida aquilo que ela é, indefinível, mas passível de aproximações – textuais, interpretativas, visuais, emocionais... – como a que este livro constitui.
A narrativa, sequência de momentos organizados num determinado tempo, é apresentada através da referência espacial. Espaço e tempo cruzam-se de um modo pouco habitual: o tempo da narrativa é apenas o de um segundo, tal como enunciado pelo próprio título do livro, e é no espaço que se sequencializam as imagens, definindo um percurso que se mantém temporal pela impossibilidade física de percorrer diferentes fusos horários em simultâneo, mas também pelo percurso da leitura, inevitavelmente superior a um segundo.
O acto de percorrer o planisfério, com o olhar ou a ponta dos dedos, associa-se à própria sequência narrativa, convocando uma leitura que, podendo fazer-se a diferentes níveis (os leitores mais novos poderão não ter adquirido ainda as noções físicas, geográficas e temporais para perceberem o jogo intrínseco desta narrativa, mas perceberão outros, e isso é sempre enriquecedor), permite várias respostas à indagação sobre o mundo e a infinitude de coisas que acontecem em simultâneo. Para uma criança, poderá ser uma descoberta avassaladora, fazendo deste um livro com potencial para marcar para sempre um leitor inexperiente, que começa a enfrentar as primeiras descobertas. Para leitores mais jovens ou adultos, a descoberta permanece, ainda que com diferentes contornos, porque O Mundo Num Segundo acaba por construir uma visão do mundo enriquecida por pormenores e pequenas histórias possíveis dentro da estrutura principal, abrindo a leitura a um potencial de visões, muito para lá da simplicidade com que por vezes ainda se encaram os livros ilustrados.

1 comentário:

Anónimo disse...

Independentemente de se gostar ou não da sua, muito interessante - eu gosto - foi uma personalidade muito carismática.