DIA MUNDIAL DO LIVRO INFANTIL
Assinalado no dia do nascimento de Hans Christian Andersen, o dia mundial do livro deste ano é também o dia das comemorações do bicentenário do nascimento do escritor.
Várias iniciativas em todo o país servirão para assinalar a data envolvendo a leitura junto dos mais novos. Aqui em Lisboa temos as actividades da Pequeno Herói e da Bedeteca, mas haverá muitas outras a decorrer.
Associando-se às comemorações duplas, o Beco publica na íntegra a mensagem do 2 de Abril de 2005, Dia Internacional do Livro Infantil, da International Board on Books for Young People:
200º Aniversário do nascimento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875)
Os livros são os meus olhos mágicos
Há muito, muito tempo, vivia na Índia antiga um rapaz chamado Kapil. Além de gostar muito de ler, era extremamente curioso. Tinha a cabeça cheia de perguntas. Por que motivo o Sol era redondo e por que mudava a Lua de forma? Por que cresciam tanto as árvores? E por que razão as estrelas não caíam do céu?
Kapil procurava as respostas em livros de folha de palmeira escritos por homens sábios. E lia todos os livros que encontrava.
Ora, um dia, estava Kapil ocupado a ler quando a mãe lhe deu um embrulho e disse: «Arruma o livro e leva esta comida ao teu pai. Já deve estar cheio de fome.»
Kapil levantou-se com o livro na mão e fez-se ao caminho. Enquanto percorria o duro e acidentado trilho que atravessava a floresta, não parava de ler. De súbito, o seu pé bateu numa pedra. Tropeçou e caiu. E logo um dedo começou a sangrar. Kapil ergueu-se do chão e continuou a caminhar e a ler, com os olhos colados ao livro. Não tardou a bater noutra pedra e, uma vez mais, estatelou-se. Desta feita doeu-lhe mais, mas o texto escrito em folha de palmeira fê-lo esquecer as feridas.
De repente, um clarão surgiu e ouviu-se um riso melodioso. Kapil levantou os olhos e deparou com uma formosa senhora, vestindo um sari branco. Ela sorria e uma auréola de luz rodeava-lhe a cabeça. Estava sentada num cisne branco e gracioso. Numa das mãos trazia um luminoso rolo de pergaminho. Com outras duas segurava um instrumento de cordas chamado veena. Estendeu a quarta mão para o rapaz e disse: «Meu filho, estou impressionada com a tua sede de conhecimento. Quero dar-te uma recompensa. Qual é o teu maior desejo?»
Kapil pestanejou de espanto. Diante dele encontrava-se Saraswati, a Deusa do estudo. No instante seguinte, o rapaz cruzou as mãos, fez uma vénia e murmurou: «Por favor, Deusa, dá-me um segundo par de olhos para os pés, a fim de que eu possa ler enquanto caminho.»
«Assim seja» - e a Deusa abençoou-o. Tocou na cabeça de Kapil e a seguir desapareceu entre as nuvens.
Kapil olhou para baixo. Um segundo par de olhos brilhava-lhe nos pés e ele deu um salto de alegria. Logo a seguir, fixou os olhos no livro e desatou a caminhar pela floresta, apenas conduzido pelos seus pés.
Graças ao amor pelos livros, Kapil cresceu e tornou-se um dos sábios mais ilustres da Índia. Em toda a parte era conhecido pela sua imensa sabedoria. Também lhe puseram outro nome, Chakshupad, que em sânscrito significa «aquele cujos pés têm olhos».
Saraswati é a deusa do estudo e do saber, da música e da fala.
Esta é uma antiga lenda indiana sobre um rapaz que descobriu como o saber é transmitido pelas palavras, essas palavras que os homens sábios escreviam em manuscritos de folhas de palmeira.
Os livros são os nossos olhos mágicos. Dão-nos informação e conhecimentos e servem-nos de guias nos difíceis e acidentados caminhos da vida.
MANORAMA JAFA (tradução: José António Gomes)
MANORAMA JAFA é escritora e membro destacado da Secção Indiana do International Board on Books for Young People. Preside à fundação Khaas Kitaab, que edita livros especiais, designadamente para crianças com dificuldades. Estes livros abordam valores universais e temas como a paz e a não-violência. Conselheira editorial, é uma autoridade internacional no domínio do livro infantil. Dirige também o projecto de formação da associação de autores e ilustradores para crianças (AWIC). Sob a sua orientação, este projecto realizou livros em oito línguas faladas na Índia (Hindi, Urdu, Bengali, Oriya, Tamil, Telegu, Gujarati e Inglês) que foram distribuídos a numerosas crianças indigentes por todo o país. Publicou, entre outros livros infantis, Histórias de Jatak, Um Burro na Ponte, Relógios Biológicos, Chetak e Pratap, Chinu Minu e Gogo, A Senhora Billo e Viagem de Balão.
2.4.05
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