A BD NA SALA DE AULA
Ontem lá fui falar sobre banda desenhada a uma turma do ciclo, em Moscavide. Não sabia muito bem o que esperar, até porque falar para um público mais novo não é a minha especialidade. Mas correu muito bem. Muito melhor do que eu alguma vez esperei.
Alguns miúdos conheciam o Corto Maltese, Blake e Mortimer e o Akira. Todos conheciam o Tintim, a família Astérix, os descendentes de Disney e a turma da Mónica. Ninguém fazia a menor ideia de que há autores de bd em Portugal (talvez pensassem que bd era coisa para vir do estrangeiro, não sei...), e por isso foi particularmente bom ter levado uma pilha considerável de livros para serem folheados com curiosidade. Ficaram a conhecer o José Carlos Fernandes, o Nuno Saraiva, o Filipe Abranches e o Richard Câmara na primeira leva, logo depois da surpresa pelo trabalho de Rafael Bordalo Pinheiro nos primórdios da bd portuguesa, ainda no século XIX. Na segunda leva, depois de descobrirem o que é e para que pode servir um fanzine (espero que o entusiasmo dê frutos daqui a uns tempos...), descobriram também o Marcos Farrajota, o André Ruivo, a Alice Geirinhas, o Francisco Sousa Lobo, a Ana Cortesão, o Miguel Rocha, o Esgar Acelerado e o Rui Ricardo.
Houve algumas reacções para a posteridade ou para a lista das surpresas. De entre os livros todos que levei, portugueses e estrangeiros e de vários estilos, um dos que chamou a atenção foi Palestina, de Joe Sacco, mesmo depois da explicação sobre o jornalismo aos quadradinhos e o cenário de guerra. Parece que o que os fascinou foi mesmo o traço e, deduzo eu, a multiplicidade de elementos dentro de cada vinheta.
Outra reacção curiosa esteve mais próxima do hilariante. Enquanto folheava atentamente um livro do José Carlos Fernandes, um dos miúdos ficou entusiasmado com uma vinheta onde se vê uma mulher sentada à mesa. Apontava para ela e dizia espantado: "Olha, olha...". Enquanto a professora lhe perguntava o que era, eu avancei com a esperança fascinada de que o miúdo tivesse adorado aquele traço e aqueles desenhos e quisesse conhecer mais coisas do autor... Mas o miúdo respondeu com a maior das naturalidades: "É que esta mulher parece uma que entra nas novelas"...
25.11.04
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