4.5.09

RECORTES



Igor Hofbauer
Prison Stories
Mmmnnnrrrg

Igor Hofbauer, nascido na Croácia em 1974, tem trabalhado sobretudo na área do design, criando cartazes para eventos ligados à música, ao cinema e a outras artes, sobretudo nos meios conotados com o underground. As linhas de força dessas criações, nitidamente influenciadas pelo trabalho de Aleksandr Rodchenko e do Construtivismo soviético, transparecem na colectânea de histórias em banda desenhada que a editora Mmmnnnrrrg acaba de publicar, com o preto e branco a organizar-se de modo equilibrado, separando claramente texto e imagem, com o vermelho a assinalar elementos dissonantes ou em destaque e com os traços oblíquos a definirem a estrutura de vinhetas e pranchas.

As histórias de Hofbauer convocam reflexões sobre a sociedade, medos inerentes à condição humana e várias situações identificáveis com o antigo Bloco de Leste, mas sempre passíveis de uma abstracção universalizante. Mesmo que algumas referências sejam óbvias, como a omnipresença do Muro de Berlim em “Band You Never Heard, Band You Never Saw”, nenhuma história se fecha nos limites do enredo que a sustenta, permitindo leituras intemporais. Para isso contribuem não só as reflexões que Hofbauer sugere, mas também as características das personagens, híbridos onde o animal e o humano convivem num desconforto visível, e ainda a inexistência de um contexto que clarifique, sem margem para dúvidas, personagens e situações. E apesar disso, a leitura não se ressente: não é preciso saber de onde vem o homem que habita a jaula de “My Prison Story” para se perceber a metáfora da prisão-espectáculo, nem são necessários motivos claros para que nos apropriemos da angústia da mulher em fuga de “Nail Story”.

“Olympia Story”, a história da antiga diva da canção que vive enjaulada e se alimenta das estrelas fugazes que o mundo do espectáculo produz a cada dia, apresenta uma estrutura mais clássica no que à narrativa diz respeito, com os dados para a compreensão do enredo a surgirem à medida que são necessários e com o recurso a analepses bem definidas (a exibição de velhas imagens em vídeo, ou os espectros que permitem vislumbrar os dias de glória da diva) esclarecendo o passado. Contrastando com o conjunto formado pelas restantes histórias, mais evasivas, “Olympia Story” acaba por ser o corolário de uma compilação que faz justiça ao trabalho de Hofbauer, marcado por um formalismo exemplar, cuja rigidez se esbate com a presença das inquietações, medos e dúvidas que assolam as suas personagens. Uma nota final sobre a edição, em inglês como a original, facilitando a circulação em festivais e livrarias estrangeiras, prática corrente na banda desenhada menos comercial.

Sara Figueiredo Costa
(texto publicado na revista Ler, nº79, Abr.09)

2 comentários:

Richard Câmara disse...

Tenho que ver se compro esse livro quando voltar a Lisboa...
Obrigado pela interessante resenha.

Um bj
Richard

Anónimo disse...

Sabiam que a WHO (agência de talentos criativos) deve milhares de euros a dezenas de agenciados e ex-agenciados, e que não lhes quer pagar? Existem muitos criativos a serem chantageados e mesmo ameaçados com queixas na PJ para os calarem.
Para além de vigarizarem os criativos, ainda têm o descaramento de fazerem verdadeiras campanhas de difamação sobre quem vigarizaram.
Muitos já iniciaram processos judiciais contra aquela agência.
Sejam solidários e divulguem a verdade para que justiça seja feita!