ANKE NO SALÃO LISBOA Anke Feuchtenberger despertou paixões e reacções no último Salão Lisboa. O seu trabalho, denso e povoado de um imaginário entre o estranho e o íntimo brutal, esteve exposto no Pavilhão de Portugal e foi alvo de descoberta para muitos apreciadores de BD.
A série Puta P., com o seu ambiente de angústia, sempre impressionante e capaz de deixar marcas em quem a encontra, é talvez a vertente mais conhecida do trabalho desta alemã que conquistou Lisboa. Deixamos aqui um excerto do texto de Burkhard Müller sobre Anke Feuchtenberger, incluído no catálogo do Salão Lisboa 2003, editado pela Bedeteca:
Já existe toda uma série de histórias da Puta P., co-produzidas por de Vries e Feuchtenberger. A mais recente conduz P. pelo reino dos mortos e a respectiva paisagem surge-nos como uma inversão da história da geologia. Tal como na ilha de Rügen, na Pomerâmia Anterior, terra de Anke Feuchtenberger, onde as pederneiras negras estão incluídas nas rochas cretaicas brancas, temos aqui caveiras cravadas em cinzas vulcânicas. Assim podemos verificar como mudou o estilo da desenhadora. A sua mão está mais livre, passou a trabalhar com o carvão, largo, quebradiço e deslavável cujo traço macio tem de ser fixado com sprays mal-cheirosos antes de se poder enviar a folha para onde quer que seja. O carvão não tolera correcções, torna-se inútil o Tipp-Ex, este grande pecado secreto do desenhador de bd's. A partir de agora, já só existem folhas aceites ou rejeitadas e deixam de existir as folhas corrigidas. Nietzsche disse: "Tudo quanto apreendo converte-se em luz/ e em carvão, tudo quanto abandono." A partir de agora parece que podemos aplicar a Anke Feuchtenberger: tudo quanto apreendo converte-se em carvão! E a sua obra mais recente arde como uma chama negra. (pg. 177)
9.7.03
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