15.11.04

FIBDA 04 - OPINIÃO
Alguns leitores têm mandado mails onde falam do Fibda e onde perguntam o que achámos do novo espaço. Como estamos em maré de não cedermos ao imediatismo, o que quer dizer que estamos dispostas a continuar a falar sobre o Fibda mesmo depois de ele ter acabado (e ainda me falta um post sobre a bd infantil e a exposição de Ricardo Ferrand e Pedro Leitão...), aqui ficam algumas linhas sobre o assunto.
Fui pela primeira vez ao Fibda em 1992, levada pela minha irmã, quando a acção se começou a desenrolar na velha Fábrica da Cultura. Acompanhei as edições seguintes vendo crescer as exposições e a qualidade delas, vendo multiplicar-se as actividades e assistindo à internacionalização de um festival que soube afirmar-se de modo inequívoco. Aquele espaço agradava-me muito, apesar (ou talvez por causa de) do ar industrial e impessoal das paredes. De ano para ano, as exposições faziam daquela fábrica um espaço diferente, com áreas redefinidas e recantos novos, e mantendo sempre as potencialidades relativamente ao ano seguinte.
Depois deste discurso, não é difícil adivinhar que a mudança para a Escola Intercultural não me agradou nada. O espaço da Escola é agradável, mas não para acolher um festival com as dimensões do Fibda. Era difícil ver uma exposição sem esbarrar com vários outros visitantes ou sem se ter a sensação de estar na casa de alguém... Os editores estavam reduzidos a umas salas no piso térreo onde não comunicavam uns com os outros e onde o espaço para conhecer as novidades era escasso e pouco convidativo. Os anos da Escola Intercultural foram, acima de tudo, anos de aperto, apesar, volto a referir, da simpatia do local.
As mudanças anunciadas para este ano entusiasmaram-me bastante. O Fibda ia voltar aos espaços amplos, com capacidade para exposições grandes e arejadas e com a possibilidade de recuperar a tradição das cenografias pensadas e criadas para cada exposição, outra das coisas que marcou o Fibda na minha memória. Mas o resultado das mudanças não me encheu as medidas. A galeria comercial do metro da Amadora-Este é um espaço fechado, sem janelas, sem ventilação satisfatória e apenas com uma porta para o exterior (que eu visse), junto à área destinada aos editores. É certo que eu sofro de claustrofobia (embora não em grau muito avançado...), o que me fez antipatizar com o local assim que lá entrei. Ainda assim, não foram poucas as pessoas, conhecidas e desconhecidas, que ouvi queixarem-se do mesmo. A inexistência de luz exterior transformou o bar e a zona de autógrafos num espaço cuja iluminação fazia lembrar a de uma cozinha urbana, com aquelas luzes incandescentes, quebrando todo o conforto e afastando a ideia de passar umas horas a ler pelas mesas, conversando com quem passa e observando os autores a desenharem ao vivo. E depois havia o calor, um calor que se tornava verdadeiramente insuportável aos fins de semana, quando o espaço enchia, e que me fez estar no festival muito menos tempo do que aquele que gostaria. As exposições beneficiaram da amplitude (ainda assim) do espaço, recuperando as brincadeiras cenográficas (vejam-se as imagens da exposição "100 BD's do Século XX") e ganhando visibilidade em relação a edições anteriores. Mas mesmo assim notava-se um certo aperto entre exposições, talvez motivado pelo labirinto de caminhos entre cada espaço, já que as exposições em si "respiravam" o suficiente.



Não sei se o Fibda se manterá neste espaço em edições futuras, embora haja uma forte possibilidade de isso acontecer. Sei, por outro lado, que a "nostalgia" da Fábrica da Cultura permanecerá, independentemente do espaço que se defina. Também não sei se existe outro espaço na Amadora que sirva dignamente os propósitos e a dimensão exigida pelo Fibda (mas deverá existir, entre tanta fábrica ou armazém...isto digo eu, opinando à luz do que vejo da janela do comboio quando passo por lá). Ainda assim, parece-me importante deixar aqui estas notas, esperando que possam contribuir para o debate (e para o futuro) em torno de um assunto que interessa, seguramente, a todos os apreciadores de banda desenhada.



(As fotografias são da Sílvia e pertencem à segunda série das que fomos fazendo ao longo do Fibda e que só agora, devido a problemas técnicos e alguma azelhice nossa, chegaram ao Beco)

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